sábado, 27 de setembro de 2008

LEVE

Escrever por quê?

Pra que?

Pra quem?

Escrever é gestar,

parir,

criar,

É lançar mundos no mundo,

Libertar-se em si.

Estou preso a mim

Como a palavra está presa às letras,

Como o jogo está preso às regras,

Como a língua está presa à gramática.

Comigo sou amor, sou Glauber,

Sou Picasso, Sidarta;

Sem eu sou apenas o concreto,

O português tacanha,

O tempo e o espaço,

As limitações externas;

Preso ao indivíduo, à razão,

Como o yang está preso ao yin,

Como o fim está preso ao início,

Como Deus está preso à fé,

Mas, cada palavra que passa me liberta

E livre sou mais real, mais ar, mais vida,

Mais Cauê e Renata,

Sou mais eu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A VIAGEM

Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
(Manu Chao/Mentira)

Eu quero morar na cidade da propaganda.

Não é a cidade retratada pelos telejornais nem a polis de Platão nem a dos sonhos de Lynch e muito menos a de cabeça pra baixo que seduziu Raul Seixas. Esse oásis de justiça social e homens públicos esforçados em servir a população que o elegeu já existe. Moramos nela e nunca nos demos conta do nosso privilégio.

Eu quero me mudar para a cidade que a propaganda diz que é a minha. A bela cidade que dizem ser a que eu moro mesmo eu não a conhecendo.

A cidade do serviço público de qualidade com seus hospitais equipados e eficazes, seus transportes eficientes, sua política justa, suas escolas paradisíacas. A cidade dos jovens informados, da massa politizada e dos Impostos cobrados com responsabilidade e usados com transparência.

Todos nós que julgamos ser essas cidades um universo paralelo, que nunca pisamos em seus solos sagrados nem nunca desfrutamos de suas benesses, é que estamos enganados. Elas existem sim. O que vemos e vivemos todos os dias, os sofrimentos e revoltas, as injustiças e indiferenças, não passam de miragem. Ilusão de nossa imaginação pessimista. Real é o que nos diz a propaganda. Prova disso é a satisfação popular que se faz presente nas urnas em todas as eleições cujos resultados contrastam gritantemente com as lamúrias e bravatas que ouvimos durante a administração de tais benfeitores.

Já não sei mais se quem vota é o eleitor ou a pesquisa, se o real é o que eu vivencio ou a que me mostram os meios de comunicação.

Só sei é que eu não vivo e nem nunca vivi nas cidades existentes nas propagandas dos candidatos a reeleição.