segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CRIANÇARTE

A criança trabalha.

Arquiteta sua arte com areia e água. Água e sal. Brinquedos. Trabalha com o sol, com o vento e com os aromas. Sua arte possui uma estética própria. Não se prende às regras ou convenções. Constrói para desconstruir e recomeçar.

Do castelo surgem cidades, alegrias, mares e pontes. Sonhos que guiam a breve brincadeira. Depois de sonhar, desconstruir e recomeçar. Não importam as opiniões, - “Que lindo!”, “Esse tá feio, faz de novo” - o sentido é apenas o jogo de fazer e desfazer. Sem linhas retas. Sem princípio nem fim. Sem deus nem dúvidas. Livre de conceitos ou pretensões. Apenas criar. Divertir-se. Preencher-se. Viver.

Ama sem racionalizar o amor. Vive sem saber que morre. Aprende sem saber que ensina. Ilumina inconsciente de sua luz. É rei na sua anarquia. Paz sem sombra de guerra.
O mundo do concreto ainda lhe é estranho. Seu contato maior é com o mundo dos sentidos. Com o sensorial. Que lembranças ainda trará do mundo uterino? Quais sobreviverão à permanente erosão causada pelas chuvas de opiniões externas? Quais sucumbirão?

Sua brincadeira é arte. Liberdade. Dionísio sem Apolo. É Hermeto e seus experimentos. Van Gogh e suas tintas. Seus amarelos. Tom Zé e seus instrumentos. A roda de Duchamp. As pedaladas de Robinho. A pedra no caminho de Drummond. Não há perpetuação. Nada está estabelecido e a beleza é um momento fugaz. Despretensioso. Lança mundos em um mundo que não se sabe mundo. Um universo paralelo. Um paraíso artificial.

Chegará o dia da expulsão do paraíso do livre pensamento e ela será condenada a vagar pelo mundo dos pensamentos pré-concebidos? Trocará sua livre expressão pelo raciocínio pré-estabelecido pelas religiões, ideologias e os grandes meios de idiotização? Ou conseguirá matar o minotauro da ganância e, guiando-se pelo novelo da evolução, escapar do labirinto do individualismo e da ignorância?

De suas decisões depende o mundo. A nossa esperança de futuro. “Vinde a mim as criancinhas”. Só um mundo formado pela autonomia da imaginação infantil será capaz de sobreviver. De lançar novas alternativas ao modelo arcaico dessa socialização violenta sempre em busca da homogeneidade. Só uma geração de erês será capaz de varrer as teias de aranha do mundo uniforme das guerras e destruições e plantar as sementes de gentileza e diversidade.

Como um Deus criança, ela brinca de criar. Cria significante e significados. Céus e estrelas. Amigos e seres. Fonemas e ritmos. Mágicas e receitas. Transforma a panela em chapéu, a areia em castelo, bicho em gente, idoso em criança, açúcar em sal, meia em bola.

Os adultos observam.

Brincam de pais. Brincam de educar. Brincam que a vida é séria e que a idade, por si só, traz sabedoria.

A criança ri.

* Publicado também no blog dulixo ( http://dulixo13.blogspot.com/2008/11/crianarte.html)

ABRAÇO NA LAGOA (15/11/08)

Sábado, 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República.
Dia de cidadania. Dia de abraçarmos a lagoa da saudade.
Dia de reinvidicarmos esclarecimentos sobre as torres que serão erguidas "na cara" do nosso patrimonio.
Para que Santos continue linda vamos dar aquele abraço na lagoa.
Sábado, 15 de novembro às 16 horas
E quem ainda não assinou a petição, assine:
http://www.petitiononline.com/soslagoa/petition-sign.html

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PROGRESSO

No meio da esperteza internacional
a cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos
(Chico Science/A cidade)


O que é o progresso? Qual o real significado desse termo tão freqüente na vida dos brasileiros, presente inclusive em nossa bandeira?

O dicionário Caldas Aulete traz em seu verbete “progresso” (no sentido que trataremos) o seguinte significado: Processo de crescimento e enriquecimento de uma região, um país etc.; desenvolvimento.

Segundo o senso comum uma pessoa que progride é aquela que atinge uma boa situação financeira e social, ou seja, consegue emprego estável, “mora bem”, possui carro do ano (objeto de primeira necessidade), plano de saúde, adquiri certo grau de instrução, viaja nas férias e freqüenta cinemas, teatros, restaurantes, etc.

Acontece que trabalho, educação, moradia, saúde e lazer de qualidade são direitos sociais assegurados a todos pela Constituição brasileira. Sendo assim, como pode alguém progredir porque conseguiu uma posição que deveria ser o seu ponto de partida? Ora, se uma sociedade vê como progresso o acesso a direitos que a carta magna do país garante a todos é porque boa parte da população não tem seus direitos validados. Ou seja, o poder público não dá conta dos direitos sociais elementares da população.

Como podemos pensar em progresso antes de suprirmos essa deficiência? Ou melhor, antes de fazermos valer nossa própria Constituição? Pior ainda, como podemos entender como progresso projetos que além de não colaborarem em nada para tais direitos vão no sentido oposto, comprometendo a qualidade de vida de parte da população dificultando o fornecimento de serviços básicos como o fornecimento de água por exemplo?

Como já dizia Fernando Sabino, “democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida, quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”; portanto não será possível construirmos uma nação livre, justa e solidária enquanto todos não partirem do mesmo ponto.

Numa época em que a consciência ecológica, a luta pela preservação da natureza e o cuidado com o meio ambiente estão cada vez mais presentes, e, a cada dia, mais urgentes, será possível que alguém ainda entenda uma obra responsável por desmatamento, afugentamento de fauna e degradação ambiental como sinônimo de progresso?

O médico, antropólogo, sociólogo e escritor pernambucano Josué de Castro (uma das mentes mais brilhantes do nosso país no século passado e que – talvez em virtude de - permanece desconhecido para a grande maioria da nossa população) escreveu um ensaio essencial para entendermos a questão do desenvolvimento, ou seja, do progresso:

...” falso é o conceito de desenvolvimento avaliado unicamente à base da expansão da riqueza material, do crescimento econômico. O desenvolvimento implica mudanças sociais sucessivas e profundas, que acompanham inevitavelmente as transformações tecnológicas do contorno natural. O conceito de desenvolvimento não é meramente quantitativo, mas compreende os aspectos qualitativos dos grupos humanos a que concerne. Crescer é uma coisa; desenvolver é outra. Crescer é; em linhas gerais, fácil. Desenvolver equilibradamente, difícil...”

E concluiu dizendo:

“Só há um tipo de verdadeiro desenvolvimento: o desenvolvimento do homem. O homem, fator de desenvolvimento, o homem beneficiário do desenvolvimento. É o cérebro do homem a fábrica de desenvolvimento. É a vida do homem que deve desabrochar pela utilização dos produtos postos à sua disposição pelo desenvolvimento.”

Em nome do desenvolvimento da cidade de Santos, eu apelo para o prefeito Papa e para a Câmara de vereadores que revejam a “lei de uso e ocupação do solo” e peço mais uma vez aos santistas que querem ver o progresso (real, não de fachada) da nossa cidade que assinem a petição criada pelo grupo S.O.S. Lagoa que solicita esclarecimentos quanto às prováveis conseqüências advindas das torres que serão (?) construídas no morro da Nova Cintra em frente à Lagoa da Saudade, afinal não é possível que a vida dos moradores do local, e de todos os santistas (a Lagoa e a área verde dos morros são patrimônio ecológico da cidade) seja prejudicada simplesmente para atender aos interesses de uma minoria.

http://www.petitiononline.com/soslagoa/petition-sign.html