quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

TRANSPORTE

A cidade de Santos continua em primeiro lugar no ranking das passagens de ônibus mais cara do país.

O aumento está em vigor desde o dia 31 de dezembro. Ou seja, no mesmo ano em que se elegeu com uma campanha que dizia que amenizaria o problema do caos viário da cidade incentivando as pessoas a usarem menos os automóveis oferecendo transporte público de qualidade, o prefeito Papa resolveu dar o primeiro incentivo: aumento de 10% no preço da tarifa. A qualidade continua a mesma (quem usa os ônibus de Santos sabe do que estou falando).

O aumento causou manifestações do Centro dos Estudantes de Santos que defende o passe livre e o bilhete único para toda a baixada.

Na capital do estado, uma cidade onde o passageiro circula muito mais nos veículos, a tarifa dos ônibus municipais (uma das mais caras do mundo!) continua R$ 2,30. Em Curitiba, cidade cujo sistema de transporte público é considerado o melhor do País, a população protestou (com razão!) o aumento de R$ 1,90 para R$ 2,20 – R$ 1,00 aos domingos. Isso para pegarmos exemplos só no nosso país, onde o sistema de transporte público está muito aquém das necessidades da população. Pergunto:

Qual o diferencial? O que há de espetacular na tão aclamada “moderna frota santista” que justifique ser a tarifa mais cara do país (se considerarmos o tamanho da nossa ilha e a quilometragem que cada veículo percorre)? Afinal de contas, se levarmos em consideração o tempo de espera nos pontos e o conforto nos veículos (em determinados dias e horários, superlotados) nosso sistema de transporte público está longe do satisfatório.

Quanto aos ônibus intermunicipais da região é melhor nem falarmos. Só o fato de não existir um bilhete único para toda a Baixada já é motivo para descredibilizar qualquer ladainha sobre região metropolitana.

A Tv Tribuna, que dedicou dois dias exibindo praticamente a mesma matéria com o claro intuito de convencer a população da cidade a não comprar as mercadorias dos ambulantes da praia ( apenas daqueles que não possuem o crachá da prefeitura, é bom que se diga), poderia elucidar seus telespectadores sobre o disparate que significa o preço das tarifas de ônibus na terra da caridade e a obrigação dos governos de garantir passe livre em transportes públicos.

A propósito, o parque municipal inaugurado no emissário submarino recebeu o nome de Roberto Mário Santini, diretor-presidente do Sistema A Tribuna de Comunicação, falecido em 2007. Uma amostra de afeto entre o governo e o maior grupo de comunicação da região; o que, cá pra nós, é fundamental para a nossa democracia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TRUPE DA TERRA

Aos leitores dos meus textos aqui no "Mandando Brasa", aviso que agora também assino uma coluna no site "Trupe da Terra", uma revista eletrônica no ar desde 2004 cujos colaboradores são baseados em Santos (alguns do extinto jornal "Cidade de Santos").
Para ver a minha coluna "Preto no branco" clique:
http://www.trupedaterra.com.br/colunas.aspx?colunista=40

Para ver o Trupe da Terra:
http://www.trupedaterra.com.br/default.aspx

sábado, 24 de janeiro de 2009

REFORMA. PRA QUE?

Desde o início do ano entrou em vigor uma nova reforma ortográfica, proposta desde 1990, e que visa uma integração de todos os países que falam o português.

Não poderíamos passar muito bem sem mais essa?

Afinal, tentar unificar a língua de um País – que devido a sua grandeza geográfica e as várias matizes de sua colonização às vezes parece que nem todos falam a mesma língua – com a de outros sete Países através de uma reforma ortográfica parece que é uma resolução que não leva em consideração o fato de que a língua (e suas mudanças) é algo que vem do povo, da cultura e dos costumes da população, e não algo que pode ser ditado de cima para baixo. Ou de fora para dentro.

Todos nós sabemos que nossas regras ortográficas e gramaticais são tão complexos que por vezes deixam em dúvida até mesmo professores e profissionais de letras. Então, qual o sentido de confundir ainda mais mudando as regras de fora para dentro?

Será que o (nosso) dinheiro que o governo gastará com a reforma (não vou explicar) não seria muito melhor usado em investimentos para que todos os habitantes do nosso País soubessem ao menos as regras básicas de fala e escrita?

Se os governos dos países de língua portuguesa querem unificar seus povos, não seria mais fácil começar no âmbito da cultura? Por que, ao invés de reformar a língua deixando a população ainda mais perdida quanto ao seu próprio idioma (e quando falo em população refiro-me a todos e não apenas aos jovens em idade escolar) não se cria um contato maior com as músicas e filmes de Portugal e Moçambique, por exemplo? Por que não facilitar para o nosso povo (e para o deles) um intercâmbio maior com esses países?

Os únicos que têm motivos de sobra para comemorarem são os donos de editoras e gráficas.

Nós continuaremos, ainda por muito tempo, escrevendo uma coisa e ouvindo nosso cérebro ditar outra.

Em suma, nessa jogada o povo mais uma vez foi preterido. Seria muito mais sadio para a nossa soberania se assumíssemos que possuímos uma língua própria, com todas as miscigenações e desvios que formaram a nossa identidade, e não a de nossos colonizadores. A unificação na prática não acontecerá, até porque a pronúncia das palavras não sofreu nenhuma alteração.

Pois como já dizia Noel Rosa: “ tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português.”

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

CELSO E O BALANÇO DA DESINFORMAÇÃO

Ainda falando do caso Cesare Batistti e o serviço de manipulação e desinformação prestado pela imprensa brasileira e analisado no meu texto "Desinformação", o texto "Balanço final de uma pequena epopéia" do incansável Celso Lungaretti, que lutou com unhas e dentes pela não extradição de Battisti, faz um balanço do comportamento da nossa impren$a e suas verdadeiras intenções nesse caso:

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/01/balano-final-de-uma-pequena-epopia.html

Boa leitura!

domingo, 18 de janeiro de 2009

DESINFORMAÇÃO

Baudelaire escreveu: “Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de asco.”.

Neste início de ano a grande imprena brasileira deu sinais de ser digna dessa convulsão de asco na cobertura de dois acontecimentos: os ataques de Israel em Gaza e a não extradição de Cesare Battisti.

Tudo bem que todos nós sabemos que imparcialidade na imprensa é praticamente um conto de fadas, uma utopia que habita os corações dos vestibulandos de comunicação e que cai por terra, junto com os cabelos, logo nos primeiros dias de aula, mas daí a apresentar sempre dois pesos e duas medidas é desprezar o poder de discernimento do receptor.

Vejamos o caso dos ataques: será que se a chamada ofensiva fosse feita pelo Irã, seria tratada apenas como uma ofensiva, uma resposta à ataques, uma tentativa de paz? Ou os âncoras, colunistas e correspondentes estariam a soltar bravatas sendo a palavra “terrorista” repetida duas vezes em cada frase? O quer faz dos ataques do Hamas a Israel terrorismo e os de Israel, simples ofensiva? Por que para a nossa grande mídia alguns países têm direito a matar quem quiser e outros só têm o dever de receber os ataques?

Mais escandaloso ainda é o caso de Cesare Batistti. Como se não bastasse a nossa impren$a (a mesma que no caso do gás boliviano defendeu com unhas e dentes a nossa soberania que, segundo o ponto de vista deles, estava sendo ameaçada) tomar partido do governo Berlusconi em detrimento da nossa constituição – que assegura que nenhum estrangeiro vítima de perseguição política será extraditado - ainda deram um show se omissão, covardia e deturpação dos fatos. Batistti foi tratado o tempo inteiro como “terrorista”, além de o fato de ele ter sido julgado à revelia por um tribunal de exceção, fato admitido até mesmo pelo ex-presidente da Itália, e, portanto senador vitalício Francesco Cossiga, não impediu que ele fosse tratado como assassino (justiça seja feita: a TV Globo mostrou a declaração de Cossiga em favor de Battisti). Quanto ao desrespeito italiano de pedir que o presidente Lula “passasse por cima” do ministro Tarso Genro e extraditasse o perseguido foi noticiada, no costumeiro tom subserviente, como uma atitude normal de um patrão que não tem sua ordem cumprida pelo subalterno.

Como se não bastasse toda a confusão de fatos e posições, alguns (tele)jornalões ainda foram resgatar o caso dos lutadores de box cubanos que queriam asilar-se no Brasil e, segundo a nossa imprensa, foram mandados de volta para as mãos do “sanguinário” governo cubano. Omitiram como já haviam omitido na época, que os lutadores voltaram para Cuba por livre e espontânea vontade, segundo relatório da Polícia Federal e entrevista de um deles ao Granma e que o Brasil concedeu asilo a outros atletas cubanos no mesmo Pan. Curioso é o seguinte: por que o governo errou ao mandar os cubanos de volta e errou de novo ao tomar atitude contrária com Battisti. Por que os cubanos deveriam ficar – mesmo contra a vontade – e o escritor italiano tem que ser mandado de volta? A Band, a mesma que julgou uma desumanidade os cubanos voltarem para Cuba, chegou a usar em seu editorial a palavra “covardia” para classificar a atitude do nosso governo. Não seria uma covardia muito maior se render aos interesses italianos, colocando-os acima, inclusive, da nossa constituição? Foi covarde também a França de Miterrand quando se negou a entregar o mesmo Battisti? Por que a França de Sarkozi negar a extradição de Marina Petrella, a pedido de Carla Bruni e sua irmã (ambas italianas, para os que querem colocar o fato como uma ofensa ao povo italiano) é um ato de humanismo e o governo Lula negar a extradição de Battisti (também doente) é uma covardia? Por que ao invés de condenar Battisti e apoiar o tribunal de exceção a nossa impren$a não trouxe de volta à cena a operação Gládio (apurada em 2000 em um inquérito parlamentar) promovida pelos serviços secretos norte-americanos que praticavam crimes contra civis, sob falsa bandeira, para culpar os comunistas e justificar os tribunais de exceção?

Como vemos a prioridade da nossa grande impren$a são seus próprios intere$$es, os de seus patrocinadores e daqueles que a alimentam politicamente, a última preocupação (se é que existe!) é a informação pública.

Público esse, que embora não saiba, é o verdadeiro dono da concessão.

Por essas e outras é que se faz urgente uma revisão no sistema de doação e renovação das concessões públicas dos meios de comunicação no Brasil.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

GENTILEZA

“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta...”

Saudades de Gentileza. Saudades da gentileza.

O início de um novo ano, com direito a arrastões, quebra-quebras, saques e espancamentos em pleno Dia Internacional da Paz (isso para não falarmos na carnificina de Gaza), é uma ótima oportunidade para trazermos a gentileza de volta para as ruas, lares e escritórios. Para as nossas vidas.

“Gentileza gera gentileza”, dizia o “profeta” que após o dramático incêndio do “Gran Circus Norte-Americano”, em Niterói (1961), deixou de ser José Datrino para se transformar em Gentileza. Convencido de que tinha uma grande missão no mundo, passou quase trinta anos pregando palavras de amor e solidariedade Nas rodoviárias, trens e praças do Rio de Janeiro, nas barcas Rio-Niterói e escrevendo palavras contra o sistema capitalista e de solidariedade nos muros da cidade. Com sua túnica branca e cabelos e barbas longas, definia-se como amansador dos burros homens da cidade.

Mas, infelizmente, o milagre que o Brasil queria não era o da gentileza. A sedução do “progresso de fachada” dos arranha-céus e rodovias, dos automóveis e eletrodomésticos, desviou a atenção da tropa das palavras gentis de “José Agradecido” e o milagre do progresso trouxe consigo a perda da ternura. Seduzido pelo poder do capital, raiz de toda a perversidade do mundo, segundo o profeta, o país caminhou em sentido oposto aos propostos pelo semeador da gentileza, mergulhando nas benesses do milagroso crescimento e na paz sem voz das fardas e esquadrões.

Gentileza se transformou em personagem pitoresco, mais um entre tantos, cuja figura excêntrica fez mais sucesso que a força de suas palavras. Quando morreu em 96, antes ainda tentou convencer líderes mundiais, que visitaram o Rio no Eco 92, da importância da gentileza para a paz mundial, o Rio já vivia a guerra patética das tropas e comandos e a ignorância individualista já era um pensamento corrente tanto na casa grande quanto na senzala. Pouco depois de sua morte, em nome do progresso, os muros onde estavam grafadas suas mensagens de amor e paz foram pintados. De cinza.

Hoje, nos tempos cinzentos de individualismo e isolamento, de pânico e barbárie, em que pensar em um sistema diferente do capitalismo corporativista é uma heresia digna de fogueira, a imagem de um dos homens mais ajuizados que esteve entre nós é tida como a figura de um louco. É uma pena que o Brasil não tenha enlouquecido com ele. Afinal, o mundo de Gentileza, um mundo de desapego aos bens materiais e ternura entre os homens, muito parecido com os idealizados por Cristo, Gandhi e Tolstoi (outros que são lembrados mais pela forma que pelo conteúdo), é muito mais lúcido que o mundo bárbaro para o qual os tecnocratas, publicitários e banqueiros nos empurraram.

Tomara, meu Deus tomara que em 2009, assim como o jardim plantado pelo profeta no terreno onde se deu a tragédia circense, a gentileza floresça e gere gentileza com a mesma intensidade com que proliferou o individualismo burro.

Enquanto isso não acontece, resta-nos acompanhar as atrocidades cotidianas nos obituários televisivos (“Todo dia você lê jornal, ouve rádio, televisão, só vê barbaridade: é crime, é assalto, é seqüestro, é vício, nudez, devassidão, fome e guerra.”) e ouvirmos, cheios de pavor, o lamento de Marisa Monte:

“...só ficou no muro tristeza e tinta fresca...”