segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PROGRESSO

No meio da esperteza internacional
a cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos
(Chico Science/A cidade)


O que é o progresso? Qual o real significado desse termo tão freqüente na vida dos brasileiros, presente inclusive em nossa bandeira?

O dicionário Caldas Aulete traz em seu verbete “progresso” (no sentido que trataremos) o seguinte significado: Processo de crescimento e enriquecimento de uma região, um país etc.; desenvolvimento.

Segundo o senso comum uma pessoa que progride é aquela que atinge uma boa situação financeira e social, ou seja, consegue emprego estável, “mora bem”, possui carro do ano (objeto de primeira necessidade), plano de saúde, adquiri certo grau de instrução, viaja nas férias e freqüenta cinemas, teatros, restaurantes, etc.

Acontece que trabalho, educação, moradia, saúde e lazer de qualidade são direitos sociais assegurados a todos pela Constituição brasileira. Sendo assim, como pode alguém progredir porque conseguiu uma posição que deveria ser o seu ponto de partida? Ora, se uma sociedade vê como progresso o acesso a direitos que a carta magna do país garante a todos é porque boa parte da população não tem seus direitos validados. Ou seja, o poder público não dá conta dos direitos sociais elementares da população.

Como podemos pensar em progresso antes de suprirmos essa deficiência? Ou melhor, antes de fazermos valer nossa própria Constituição? Pior ainda, como podemos entender como progresso projetos que além de não colaborarem em nada para tais direitos vão no sentido oposto, comprometendo a qualidade de vida de parte da população dificultando o fornecimento de serviços básicos como o fornecimento de água por exemplo?

Como já dizia Fernando Sabino, “democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida, quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”; portanto não será possível construirmos uma nação livre, justa e solidária enquanto todos não partirem do mesmo ponto.

Numa época em que a consciência ecológica, a luta pela preservação da natureza e o cuidado com o meio ambiente estão cada vez mais presentes, e, a cada dia, mais urgentes, será possível que alguém ainda entenda uma obra responsável por desmatamento, afugentamento de fauna e degradação ambiental como sinônimo de progresso?

O médico, antropólogo, sociólogo e escritor pernambucano Josué de Castro (uma das mentes mais brilhantes do nosso país no século passado e que – talvez em virtude de - permanece desconhecido para a grande maioria da nossa população) escreveu um ensaio essencial para entendermos a questão do desenvolvimento, ou seja, do progresso:

...” falso é o conceito de desenvolvimento avaliado unicamente à base da expansão da riqueza material, do crescimento econômico. O desenvolvimento implica mudanças sociais sucessivas e profundas, que acompanham inevitavelmente as transformações tecnológicas do contorno natural. O conceito de desenvolvimento não é meramente quantitativo, mas compreende os aspectos qualitativos dos grupos humanos a que concerne. Crescer é uma coisa; desenvolver é outra. Crescer é; em linhas gerais, fácil. Desenvolver equilibradamente, difícil...”

E concluiu dizendo:

“Só há um tipo de verdadeiro desenvolvimento: o desenvolvimento do homem. O homem, fator de desenvolvimento, o homem beneficiário do desenvolvimento. É o cérebro do homem a fábrica de desenvolvimento. É a vida do homem que deve desabrochar pela utilização dos produtos postos à sua disposição pelo desenvolvimento.”

Em nome do desenvolvimento da cidade de Santos, eu apelo para o prefeito Papa e para a Câmara de vereadores que revejam a “lei de uso e ocupação do solo” e peço mais uma vez aos santistas que querem ver o progresso (real, não de fachada) da nossa cidade que assinem a petição criada pelo grupo S.O.S. Lagoa que solicita esclarecimentos quanto às prováveis conseqüências advindas das torres que serão (?) construídas no morro da Nova Cintra em frente à Lagoa da Saudade, afinal não é possível que a vida dos moradores do local, e de todos os santistas (a Lagoa e a área verde dos morros são patrimônio ecológico da cidade) seja prejudicada simplesmente para atender aos interesses de uma minoria.

http://www.petitiononline.com/soslagoa/petition-sign.html

Um comentário:

Walmir disse...

Pois mano blogueiro, isto que no mundo se chama crescimento, desenvolvimento, o que seja, me perturba em raivas. Precisamos eh parar de crescer de algum modo inteligente.
Tamb'em aqui em BH a cidade se afoga em ve[iculos, estresses, turbilhao de vendas, faculdades de fundo de quintal, e predios e mais predios e espigoes. A cidade cresce pra cima, uma vergonha.
No espaco onde caberiam dois carros, ergue-se um arranha-ceu onde moram 30 familias e estrebucham 60 veiculos. Aumenta poluicao, aumenta estresse.
Plano de uso e ocupacao do solo? Nao importa, empreiteiras elegem vereadores, prefeitos, deputados, conseguem alvaras, constroem o desenvolvimento da indecencia.
Paz e bom humor, mano blogueiro