terça-feira, 9 de outubro de 2007

UNAM-SE, MOBILIZEM-SE, LUTEM!

O que é a nossa democracia?

Se pensarmos no significado da palavra (do grego, demos=povo + krato=governo) entenderemos que é um governo, como definiu Abrahan Lincoln, do povo para o povo. Porém segundo Nelson Mandela, uma democracia com fome, sem saúde e educação para a maioria, é uma concha vazia. Essas definições servem como ponto de partida para analisarmos alguns acontecimentos e tentarmos encontrar possibilidades de melhora.

O editorial do dia 07 de outubro de um jornal de Santos deu o pontapé inicial para polarizar as eleições municipais do próximo ano. Como é de costume, a argumentação veio recheada de meias palavras, mas deixando claro o propósito: sentenciar quais os candidatos que poderão ganhar as eleições.

Pensemos: Quais seriam os resultados das eleições caso não houvesse pesquisas? As pesquisas estão a serviço da população ou servindo a outros interesses? Como teremos uma mudança estrutural no nosso País se a melhor forma de mudarmos isso, o voto, também está corrompida?

Já é mais do que sabido que os grandes meios de comunicação brasileiros não atendem aos interesses da população e sim aos de uma minoria que busca se manter eternamente no poder. Sendo assim, não são democráticos, embora preguem a democracia quando lhes é conveniente. No dia 5 de outubro venceram as concessões de grandes emissoras de rádio e televisão, algumas manifestações reivindicando maior transparência nas concessões ocorreram em várias cidades, mas a grande massa nem sequer ficou sabendo. E por quê?

Elementar, meus caros Watsons! Porque os meios de comunicação, os Kanes dos trópicos, jamais levariam ao conhecimento do povo uma proposta de reavaliação de suas próprias condutas. A renovação automática, é isso o que acontece quando vencem as concessões, é perfeita para seus interesses. E para os interesses do povo?

Será que uma concessão pública, ou seja, do povo, não deveria ter a obrigação de colaborar na educação, exercício da cidadania e esclarecimento da maioria? Será que ao invés de tratar dos próprios interesses, a obrigação desses meios não seria o de tratar dos interesses do País (não do governo, do País!) que lhes deu a concessão? Onde está a democracia?

Um “Recordações do escrivão Isaías caminha” escrito em 2007 traria uma imprensa menos repugnante que aquela retratada por Lima Barreto em 1908? Ou será que para nós o tempo está parado?

Como esperar que um país que tem Educação mais como uma fonte inesgotável de demagogia (e lucro!!!) que como uma forma de progresso, que tem os meios de comunicação mais a serviço de interesses manipuladores que de informação ao povo, seja democrático?

De que adianta pregar-se uma reforma política se a última palavra é sempre dada pelo poder econômico?

Como cobrar voto consciente de uma população que quanto mais tenta informar-se mais desinformada fica? Como esperar ensino de qualidade de empresários que abrem escolas e universidades visando o lucro, de um Estado mais preocupado com suas brigas partidárias que com o esclarecimento de seu povo?

Como esperar que a violência social seja sanada se os interesses econômicos estão acima do bem estar da população? Como esperar uma melhora do sistema de saúde pública quando a saúde privada virou fonte de renda para corporações?

Como buscar saída na arte se os produtores de cinema, os escritores e dramaturgos, para atingir um público significativo têm que buscar apoio no opressor poder econômico?

Como esperar um interesse social e uma atitude revolucionária de uma juventude que foi educada por uma vendedora via-satélite e entretenimentos importados de conteúdo colonialista?

Com uma democracia baseada em campanhas milionárias que partido consegue chegar ao governo sem entrar em conchavo com o tal poder?

Há quinhentos anos é assim! Quando deixamos de ser colônia foi porque era do interesse das oligarquias que deixássemos; se nos transformamos em Republica foi mais para atender a interesses elitistas que para beneficiar a nação. E assim as coisas sempre aconteceram, salvo raríssimas exceções.

Nossos amigos da América do Sul (vide Venezuela, Bolívia e Equador) já despertaram e estão cuidando dos seus interesses. E nós? Perderemos mais uma vez o “trem da História” e continuaremos servindo de fantoches para os interesses imperialistas, votando com base em pesquisas tendenciosas e buscando informações em meios manipuladores?

Não foi se curvando ao mercado ou classificando a situação como imutável que Gandhi conseguiu livrar a Índia da opressão inglesa. E nós? O que faremos? Continuaremos confundindo passividade com pacifismo?

Se as pessoas que tencionam construir um Brasil mais justo e verdadeiramente democrático (se é que a democracia não é uma piada como sentenciou Saramago) não começarem a agir já, através de atitudes esclarecedoras, de um exercício mais eficaz da cidadania e de um pensamento mais global e não voltado ao egoísmo (a sociedade alternativa está dentro de cada um de nós), a situação se prolongara por mais quinhentos anos.

Porque no que depender dos grandes meios de comunicação e do poder econômico que os patrocinam o objetivo será sempre o lucro da minoria, nem que para isso seja necessário inventar guerras e epidemias.

*Publicado também no jornal Página Dois (http://www.paginadois.com/conteudo.php?c=4069)

4 comentários:

Zilmara Dahn disse...

Olha, vou ti falar..a única opção que me resta é continuar votando nos candidatos que acredito, mesmo que nunca ganhe como sempre acontece. Aí viro refém da corja vencedora que me dá um boa noite cinderela, e só depois de quatro anos desperto pelo soro da "democracia" que a mesma corja me injeta.Claro que por vezes tento levantar e agir, mas infelizmente a escolha foi da maioria que prefere entorpecer e calar.Moro em Cubatão, no estomâgo da besta, onde o nordestino por anos ajudou a erguer a industria não recebendo absolutamente nada em troca nem dos prefeitos e nem das empresas.Não há escolas dignas, não há cultura, não há lazer, não há emprego, transporte público descente..nada. A arrecadação monstro passa para os bolsos de quem governa e a população humilde e de pouca educação apenas assiste.E na próxima eleição vende o voto por oito maderites e quatro telhas. Se perguntar a ele o que é cidadania não saberá dizer, porque não foi interessante ensinar.

...

E agora José?

Walmir disse...

Pois o caminho da história é sempre resvaloso, rapaz. A gente anda de banda, escorrega, forceja, dá um passo pequeno à frente. Tem vez que até recua. Depois anda de novo.
Estamos andando, botando uma pedrinha aqui e outra ali.
É sempre uma luta que a gente tem de saber que é devagar, devagarinho.
Paz e bem

Anônimo disse...

Gostei dos comentários de Zilmara e Walmir.
Concordo com você Walmir, é devagar,devagarinho. Só não podemos parar.
Quanto à situação de Cubatão,muito bem retratada pela Zilmara, gostaria de acrescentar que a Àfrica do Sul e a Índia estavam no mesmo grau,mas conseguiram vencer o Império(por coincidência(?) a Inglaterra nos dois)que os afligia.
O título do texto é uma homenagem a Mandela, é um nome dado a um discurso dele.

Anônimo disse...

Olá Leandro,
Ao inventarem a democracia, os filósofos gregos esqueceram, talvez, que o homem - homens e mulheres, em geral - é movido por um sentimento forte que se chama PODER e por tudo o que possa lhe proporcionar o dito PODER, como o dinheiro, por exemplo.
E não é somente o brasileiro que sofre da "ânsia do poder". Estruturalmente, não somos diferentes dos homens de nenhum outro país. No Brasil, como em qualquer outro país, encontramos diferenças apenas na individualidade, ou seja, indivíduos cuja vontade de poder não interfere em sua conduta.
Lendo seu artigo, percebi o número de vezes em que você se refere a poder econômico, a lucro e outros termos afins. Donde se conclui que o tal poder econômico é um traço forte e decisivo nas questões sociais e políticas.
No entanto, se nós brasileiros não somos diferentes dos cidadãos do resto do mundo, em relação a essa vontade de PODER, em que, então diferimos? Na minha humilde opinião, diferimos na cultura, no modo como nos estruturamos socialmente, num sistema permissivo sob vários aspectos e que não adquirimos da noite para o dia, mas através desses longos 500 anos de Brasil Colônia, Velhas e Novas Repúblicas e mais duas ditaduras que representaram considerável e lastimável atraso no regime democrático.
Se a Democracia é o governo do povo para o povo, pressupõe-se a participação mais ativa desse povo que deixaria de ser massa manipulada para transformar-se em massa atuante, com voz ativa e representação real.
Entretanto, a crítica é fácil, sempre o foi. Então o que se deve pretender é uma busca incessante de soluções. Não há como se cobrar cidadania, consciência política de um povo que não tem o que comer, que mal sabe ler e o que lê não entende.
Mais uma vez, volto ao tema EDUCAÇÃO, sem o que não há progresso, no sentido de melhoria de condições de vida.
Os brasileiros precisam aprender a reclamar. Este, no meu entender é o ponto básico e o pontapé inicial. Mas, o que tenho visto com tristeza é um descaso com a Educação, entra ano, sai ano...
Não faz muito tempo soube que é proibido um aluno repetir o ano. Esteja ou não preparado para cursar um nível acima, ele é promovido. Não ouvi uma discussão sequer sobre esse absurdo!
Repetir um ano não é nenhuma tragédia que vá marcar para sempre uma criança. Inclusive, fracassos fazem parte da vida e precisam ser enfrentados e EDUCAÇÃO é preparação para a vida, antes de mais nada.
Enfim, os males são muitos em vários setores, e vêm de longe. Só passo a passo e devagar mesmo é que conseguiremos algum sucesso.
Porém numa caminhada, por mais longa que seja, há que se dar o primeiro passo.
abços
regina