“A mídia é o nosso aiatolá.”
A frase de Raul Seixas, presente no seu derradeiro álbum “A panela do Diabo”, define as relações de comunicação no nosso planeta. O mesmo poder divino creditado ao aiatolá, é dado aos meios de comunicação. São eles que decidem as músicas que serão apreciadas, os escritores que merecerão crédito, os artistas que terão o talento (ou a falta dele) reconhecido e qual parcela da população terá acesso a determinada informação.
A mídia “pensa” pela massa. Armados de microfones e câmeras, os cavaleiros televisivos decretam o que é bom e o que é ruim. Nas revistas e jornais, escrevem verdadeiras doutrinas de pensamento que levam o leitor não ao raciocínio, mas a aceitação da verdade fabricada.
Ou seja, se seguirmos uma linha de raciocínio próxima de Proudhon, constataremos que a mídia assassina os indivíduos que compõem a massa. Rouba-lhes o raciocínio, a liberdade de escolha e o senso de crítica e monopoliza os meios de informação e cultura ao sabor de seus próprios interesses. Aonde interessa o racismo, ela prega o apartheid; aonde interessa o corporativismo, ela prega a adaptação às mudanças; aonde interessa vender segurança, ela propaga a violência; e por aí vai.
Como definiu meu conterrâneo Plínio Marcos: “A cultura nas mãos dos poderosos constrangemais dos que as armas”. E a mídia é a bomba atômica do imperialismo. É através de suas verdades inventadas, de seus supérfluos vendidos como indispensáveis e da indução de ambições, que eles moldam os interesses da população aos interesses das corporações.
E é neste feudo que vivemos. Totalmente manuseados pelos dogmas e doutrinas de meios que visam perpetuar a servidão, insuflando o sonho da ascensão.
Porém, como sempre há uma brecha e é através dela que os cavalos atravessam as muralhas, a globalização corporativista também tem seu calcanhar: chama-se internet.
Se a invenção da imprensa no século XV gerou uma série de reavaliações, inclusive religiosa, devido ao maior número de pessoas que teria acesso à documentos e escritos, a anarquia (no bom sentido) de informações promovida pela internet pode alcançar os mesmos efeitos.
A vinte (talvez até dez) anos atrás, seria impensável para qualquer profissional, principalmente da área artística, lançar sua obra com um relativo alcance se estivesse fora da “panela midiática”. Hoje a coisa é diferente. Com seus blogs e sites, sua comunicação em rede, sua escala mundial, a internet é a democratização da informação. Escritores que não fazem o jogo das editoras conseguem publicar suas obras on line, músicos que não têm acesso aos esquemas das gravadoras podem lançar suas músicas sem interferências e atravessadores. O banda inglesa Radiohead gostou tanto da fórmula que decidiu lançar seu novo trabalho “In Rainbows” só pela internet (o interessado entra no site da banda e faz o download das músicas pelo preço que quiser; inclusive de graça, se assim quiser).
Novo Renascimento? Talvez. As mudanças causadas pela democratização de idéias e talentos promovida pela web já podem ser vistas a "olho nu". Provavelmente, ela será o mecenas que viabilizará as criações dos novos Dantes, Maquiavels e Michelângelos. A diversidade de textos e pontos de vista torna a internet uma fonte de informação e estudo, por vezes, muito mais eficaz que as cadeiras das univer$idade$ particulares. “O diploma universitário seria mais honesto se fosse vendido em papelaria.” (Paulo César Peréio).
O quarto poder está em xeque. Os meios de informação não podem mais serem controlados, as notícias não têm mais como serem negociadas. Qualquer pessoa com acesso à rede pode ler desde grandes obras da literatura até blogs independentes de autores não conhecidos. O acesso à cultura e à informação está democratizado. Quanto a separar o joio do trigo, cabe ao nosso sistema educacional preocupar-se menos com lucros e mais com ensino e mostrar aos nossos jovens que ser internauta é muito mais que acessar “chats” e exibir “fotinhas” com a “galerinha”.
O mundo mudou e muda a cada dia. Se a revolução causada pela internet apenas transformará o excesso de informação em um ruído ensurdecedor incapaz de transmitir algum tipo de mensagem ou será realmente uma renascença de idéias que proporcionará uma reavaliação comportamental, caberá a nós decidirmos o caminho. De qualquer forma, o monopólio da imprensa sobre a opinião pública está com os dias contados.
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”
* Publicado também no jornal Página Dois (http://www.paginadois.com/conteudo.php?c=4182)
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
8 comentários:
Qualé ralé?? tá lendo pensamento? O titulo do meu proximo post seria "qual o papel da mídia?". PQP. Então, vou deixar pra "comentar" lá pq tem mais espaço. :P Aguarde!
E o Raul tava certo!
abração
aê, maluco!
01) a "crônica da morte anunciada" da grande mídia (no sentido quantitativo apenas, claro)já é fato;
02) basta ver quem são os contra TV Pública etc.
03) vocês já devem ter reparado que fica lento pra acessar o sítio do Granma e de outras coisas pró-nós-todos
04_ viva Patch Adams que, se me permitem o trocadilho, vai nos ajudar a remendar esse mundo enquanto criamos o o novo
VIVA O MANDANDO BRASA!
olavo dáda
Pois é amigo.. na internet todo mundo tem vez. Acabou a exclusão intelectual. Cada um pode mostrar o que sabe fazer, o que pensa, o que quer ler, ouvir e ver. Lembro-me quando assinei a banda larga e pude ver vídeos de grupos onde todos os integrantes já haviam desencarnado ( e não eram mais interessantes para a mídia). Todos os contos menos bajulados de autores que gostava (e que não eram comercialmente interessantes) fora os produtos que pude comprar e que não faziam parte das “tendências do momento” ( e que ninguém vendia em minha província). A internet está rachando muitas muralhas e abrindo mares nunca antes navegados.
Navegar e descobrir. Verbos eternos do homem.
Nossa, nunca tinha parado pra pensar dessa forma...
Lógico que, assim, a gente sabe que a mídia manipula,restringe...mas caraca...nunca tinha parado pra pensar que muitas coisas poderiam ser ditas se houvesse uma certa democratização...
Meu tempo � curto para dissertar. S� me resta parabeniz�-lo.
Abra�o, ral�
Caro amigo, achei ótimo vc dizer que a mídia tem o poder de aiatolás. Tem mesmo.
Mas, de outro lado, mesmo antes da internet, havia muito resistente. Gente que não se deixava imbecilizar.
Concordo que a internet abriu janelas, mas é injusto pensar que antes não abríamos janelas nos vastos muros; abríamos.
Por outro lado temo também a internet. Ela não está isenta nem livre do poder dos poderosos.
Manter um portal abrangente é coisa custosa, tem preço inacessível à maioria das pessoas.
Por isso devemois procurar uniões eficazes dentro dela. Divulgar trabalhos importantes, unir blogs, etc.
Paz e bom humor
Sinto falta de sua presença mais constante e lutadora. Deu-se um tempo para preguiças?
Volte logo.
Paz e bom humor, meu amigo
Sem dúvida, a mídia é manipuladora,
entretanto, isso não acontece só aqui no Brasil. O maior problema no nosso país é que o povo, de maneira geral, prefere o prato feito, por preguiça ou por não ter EDUCAÇÃO suficiente. Educação no sentido de SABER e não de polidez.
Quanto à Internet, não podemos nos esquecer de que ela abrange uma pequena parcela da sociedade. Nos cafundós desse país imenso, onde, muitas vezes, o sujeito não tem acesso à água, à alimentação adequada, à saúde e mesmo a um teto, o que dizer de acesso à Internet? E ainda há os que, apesar de terem um computador, retringem-se a grupos de Orkut onde só se fala abobrinhas. Não sou contra abobrinhas, pois elas desafogam e desestressam. Mas só abobrinhas aí mora o perigo!
Sempre em meus comentários volto ao assunto EDUCAÇÃO que, a meu ver, é a ÚNICA SAÍDA para um Brasil melhor e mais consciente que não se deixará levar por mídia nem por discursos vazios tão comuns na política atual.
abçs
gina
Postar um comentário