quinta-feira, 14 de junho de 2007

EXPRESSÃO

A não renovação da concessão de uma emissora de TV na Venezuela tem sido o principal assunto da mídia brasileira nas duas últimas semanas. Os telejornais mostraram sistematicamente manifestações de oposição à não renovação e até o Congresso brasileiro decidiu se ocupar, será por falta de questões locais?, com o destino da liberdade venezuelana.

Nesse mesmo período o cineasta americano Michael Moore corre o risco de ser preso por ter desrespeitado o embargo à Cuba e pisado em território proibido para filmar cenas para o seu novo documentário “Sicko”, que tece comparações do sistema de saúde americano – que serve de modelo para o sistema brasileiro – com o de outros países, entre eles Cuba; além da investigação e ameaça de prisão, o filme teve sua estréia adiada na “terra da liberdade”. Não é preciso falar que a mídia nacional quase nada falou sobre o tema.

Pensando sobre o assunto e tomando a nossa mídia como formada por meios de comunicação sérios algumas perguntas ficam por responder: “Por que não renovar a concessão pública de uma emissora é um atentado contra a liberdade de expressão e ser proibido de entrar em um País, mesmo que seja para filmar partes de um documentário, não?”; “O que faz dos E.U.A de Bush e Moore a terra da democracia e da Venezuela de Chavez uma ameaça à liberdade de expressão?

Diante dessas questões não há como não ecoar sobre nossas mentes uma das questões lançadas por Caio Prado Jr., “O que é a liberdade?”.

Foi em nome da liberdade que a imprensa brasileira – sempre ela- submeteu o Dr.Osvaldo Cruz, então diretor da saúde pública, a uma campanha difamatória por querer tornar obrigatória a vacinação contra a varíola, causando uma revolta da sempre mal-esclarecida população contra o sanitarista.

Em nome dessa tal liberdade o Iraque foi invadido sob suspeitas de possuir armas biológicas enquanto Israel “armado até os dentes” se dá ao luxo de desobedecer as ordens da O.N.U. e fazer o que bem entende. E como ficará a liberdade na França no governo de Nicola Sarkozi? E a liberdade dos nossos vizinhos colombianos que enfrentam uma guerra cada vez maior? Se tirarmos como parâmetro a atenção dada pelos nossos órgãos de comunicação à Venezuela, a questão da Colômbia foi praticamente esquecida. Por quê?

Será realmente uma preocupação com a democracia venezuelana ou o problema é o presidente que nacionalizou o petróleo do País? Será que se a emissora que não teve a sua concessão renovada fosse opositora de um governo de direita a mídia do nosso País estaria tão preocupada? Então por que não se levantaram a favor da liberdade de expressão e de trânsito de Michael Moore com a mesma obstinação?

Para melhor ilustrar nossa reflexão, vale a pena lembrar que John Lennon travou uma batalha com o governo americano por se mostrar contra a Guerra do Vietnã, entre outras coisas, e quase foi expulso do País e Charles Chaplin por expressar em seus filmes valores contrários ao “american way” foi expulso do democrático Estado Unidos. Isso para não falarmos da auto-censura que rege os meios de comunicação brasileiros e americanos. Se Hugo Chavez se inspira em Simon Bolívar, o governo americano continua seguindo à risca a paranóica cartilha marcartista de “caça às bruxas”.

Enquanto tratamos de interesses alheios, o rei global Roberto Carlos proíbe a circulação de um livro que trata de sua biografia. Aliás, proibir livros e filmes são atos comuns dos reis e rainhas globais. Por falar em Globo, o que a emissora, que dia e noite se coloca á favor da liberdade de expressão venezuelana, tem a nos dizer sobre a proibição do documentário britânico “Muito além do Cidadão Kane”( Beyond Citizen Kane), que trata da história da emissora e sua ligação com a ditadura militar – de direita, é bom que se diga – do País, em nosso território?

Com todas estas dúvidas na mente só me resta ouvir o disco de Taiguara, “Ymira, Tayra, Ipy”, que foi apreendido pela ditadura militar 72 horas após seu lançamento e até hoje, com a nossa suposta liberdade de expressão, não tem circulação em nosso País, enquanto me lembro do muro que os E.U.A. erguem na fronteira com o México e da política de endurecimento do governo americano contra imigrantes ditos ilegais contradizendo os dizeres que figuravam no pedestal da Estátua da Liberdade: "Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade".

* Publicado também no Jornal Página Dois ( http://www.paginadois.com/conteudo.php?c=3526)

4 comentários:

celsolungaretti disse...

Leandro, essa crise com a Venezuela começou quando o Sarney, depois de conversar pela manhã com o Renan Calheiros, foi para o Senado e insuflou os colegas contra o Chavez.

Um colunista da Folha de S. Paulo -- o Jânio de Freitas ou o Élio Gaspari -- escreveu que tudo não passou de uma armação para desviar a atenção do distinto público, enquanto o esquema pró-Renan agia para livrá-lo do merecido castigo.

Os únicos realmente interessados nessa Batalha de Itararé são os barões da mídia, temerosos de que o Lula imite o exemplo do Chavez.

Já outros atentados à imprensa livre não provocam a mesma indignação. P. ex., o ingresso de capital sul-africano na Veja, que, por "coincidência", guinou visivelmente para a direita. Só falta pregar o apartheid em nosso País, para ficar mais alinhada ainda com seus novos sócios...

Unknown disse...

Oi Leandro... Com grande satisfação vi seu blog MANDANDO BRASA. Tenho um meu; acho q com preocupações parecidas. Dá uma olhada: http://humoral.blogspot.com... Se vc gostar, podemos trocar links: eu te indico no meu e vc, no seu... Abraços

Anônimo disse...

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Unknown disse...

porra, leandro, acabo de produzir texto pros 2 sites com os quais colaboro, e o tema foi o mesmo: o lance da tv venezuelana.

teu texto tá execelente (como de costume).

blz
continuo a divulgá-lo pros manos.
abraçõa
parabéns
saúde & paz