sexta-feira, 6 de julho de 2007

TESOUROS DA JUVENTUDE

Renan Calheiros, Joaquim Roriz, João Alves, Antonio Carlos Magalhães, Roberto Jefferson e tudo mais jogo num verso...

Esse seria o primeiro parágrafo de um texto que trataria dos escândalos envolvendo o legislativo mais caro do mundo; mas o resultado de uma pesquisa, dentre as dezenas que a imprensa brasileira apresenta todos os dias ( e que a meu ver, na sua maioria, não servem para nada), me pareceu mais grave que qualquer escândalo político: quinze por cento dos universitários (teóricos da classe média vejam bem: estou falando de universitários) do Rio e de São Paulo nunca leram um livro não-didático na vida e trinta e seis por cento leram de um a três; infelizmente, ou felizmente (depende do ponto de vista), a pesquisa à que me refiro, encomendada pelo C.I.E.E ao Instituto Toledo e Associados, não revelou o conteúdo dessa escassa leitura.

“Que País é este?”, sirvo-me da pergunta de Renato Russo ao constatar que as universidades são formadas basicamente por pessoas sem o menor interesse pelo mundo e os seres que os cercam. Afinal falar disto é falar dos nossos escândalos políticos e da apatia do nosso povo perante eles. Ou será que existe alguma outra forma de aprofundamento, seja em história, em política, no idioma pelo qual tenciona comunicar-se, ou em qualquer outro assunto, que não seja através dos livros? Que diferença há entre um analfabeto e um diplomado que não lê?

Tudo bem que para bradar bravatas em botecos ou organizar passeatas inúteis não é preciso nenhum aprofundamento. Mas, e para construir uma nação? A simples especialização pode até formar bons profissionais, no sentido robótico da palavra, e quanto ao cidadão?

Que reformas poderemos esperar de uma sociedade que se forma sem nenhum vínculo com a cidadania? As pessoas interessadas pelo seu papel como cidadão, como alguns estudantes da USP, são poucas perto daqueles que olham somente para os seus próprios anseios. Vivemos na sociedade do “cada um com seus problemas”, incapaz de abrir mão do mais ínfimo interesse a favor do bem-comum.

Como esperar uma política diferente? Como imaginar um quadro social que não seja o caos que vivemos? Como almejar ordem e progresso para um País que entrega diplomas na mão de semi-analfabetos? De uma sociedade que, como constatou Mino Carta, voltou à idade da pedra?

A classe-média discute o absurdo que lhe parece o sistema de cotas, mas o desinteresse pela leitura, e toda a desinformação decorrente, dominando o ensino superior não causa nenhum alarde.

Grande parte dos nossos futuros bacharéis, doutores e professores instruem-se bem longe da leitura, e como conseqüência, alheios a qualquer aprofundamento. Superficiais como as músicas que escutam, os filmes que assistem e os valores que cultivam. Superficiais como suas páginas de orkut e os fotologs que exibem. E o pior é que talvez esta superficialidade seja um reflexo da educação familiar e dos exemplos de vida que receberam.

Para se aproximar de uma juventude assumidamente hedonista, Tom Zé gravou um CD sem nenhuma letra. Será este o caminho? Ou a saída é emigrar? Seguir a ideologia governista dos anos 70, aquela que tinha como lema: “quem não estiver satisfeito que se retire”, abandonar o País na mão da ditadura da alienação e se banhar nas águas culturais do Sena e do Arno?
Tomando esses dados como referência e somando-os aos que revelam o número de analfabetos funcionais e dos que não tem acesso nem a essa educação superficial, o resultado só pode ser a violência, a corrupção, as injustiças e o consumo cego e desenfreado.

Quem tiver alguma boa perspectiva peço que me informe. Quando olho para o nosso presente e o futuro reservado para uma sociedade que se forma dessa maneira tudo o que consigo sentir é a náusea de Sartre. Após esses escândalos, outros virão. Mudarão alguns bailarinos, mas a música permanecerá sempre a mesma. O museu de grandes novidades, que tanto incomodou Cazuza, será por muito tempo o resultado da nossa democracia.

Enquanto tento encontrar uma luz, buscando auxílio em Hermann Hesse, Darcy Ribeiro e Rubem Braga; desculpo-me com o saudoso Wally Salomão por não mascarar minha dor e desperdiçar o seu “verso” jogando-o nesse mal público, num artigo natimorto que não resolverá nada e dificilmente, devido inclusive ao meio em que foi gerado, causará algum tipo de reflexão.

* Publicado também no jornal Página Dois ( http://www.paginadois.com/coluna.php?s=15 ) e no Jornal Brasileiros e Brasileiras (edição de outubro/07)

Posto abaixo o comentário do jornalista e meu amigo Fábio Lobo:

A evolução como escritor do nosso outrora Brizola (quem não foi pra escola com ele que me desculpe) é galopante. Fenômeno muito grato para as mentes dos que podem ter acesso permanente à produção desse jovem talento (que tem um espírito milenar, entretanto). Leandro está cada vez mais deitando e rolando nas palavras, com um cinismo bem-intencionado que nos coloca no olho desse furacão de lama que uns e outros chamam de sociedade. Como leitor de capacidade mental mediana, digo que o texto aparentemente é visto, mastigado e deglutido quase que ao mesmo tempo, mas quando chega o ponto final é que o espírito percebe estar diante de um material infindável, que vai sendo gravado nos confins do universo para, junto com a obra dos cada vez mais escassos artistas do Bem, explodir de maneira avassaladora na "cara dos caretas" e impor uma sociedade mais decente.Salve, irmão. O "TdJ" arrepiou. O B&B, o futuro e o herdeiro agradecem!FL

3 comentários:

Anônimo disse...

O destino é coisa séria. As poucas coisas que aprendi na escola sobre história do Brasil e que até hoje não me esqueço, foi quando minha professora disse bem tranquila e sem muita reflexão:
"Como castigo, Portugal mandava os delinquentes e ladrões para o Brasil..era uma forma de se livrar deles e povoar a colônia ao mesmo tempo."

Pois eles estão aí até hoje.E suas raízes se firmaram ao solo de uma forma tão irreversível, que somente alguém com muito amor a terra saberá arrancar. Mas para isso não basta amor, será necessário sabedoria.

Alguém?????


É meu amigo...oremos!!!

Walmir disse...

Boas reflexões, Leandro. A questão do ensino, do acesso ao ensino, de quem tem acesso ao ensino, da qualidade do ensino é um fundamento importante.
Maiorias detectadas nas pesquisasnos desanimam, mas há ilhas de excelência, como se diz. Há muitas. Como multiplicá-las até que formem um continente é o nosso desafio.
Parabéns pelo blog.

Walmir disse...

Linkei seu blog ao meu: http://walmir.carvalho.zip.net
Espero que você concorde.
Grande abraço
Walmir